Como cena de filme

Informação prévia: O meu condomínio possui apenas dois prédios, um de frente pro outro. Eu moro em um apartamento, que por ser no ultimo andar do prédio, ele tem direito a parte da cobertura, um terraço, e ele está localizado exatamente de frente para o outro prédio.

Ilustrado isso, posso começar a história.

No meu quarto não tem ar-condicionado, tem somente um ventilador de teto, que muitas das noites, não é suficiente pra dar conta do calor que tem feito. Ontem foi uma noite dessas.

Após uma tentativa frustrada de dormir, eu resolvo subir ao terraço para arejar um pouco e tentar relaxar, lá em cima é bem mais fresco pois não a nada a não ser a casinhola que protege a escada da chuva e um chuveiro instalado a um mês atrás.

Fiquei lá em cima por uns cinco minutos pensando na vida e rezando por uma frente fria, o terraço tava bem iluminado, a casa de máquinas do elevador fica logo acima do meu apartamento e às vezes esquecem a luz acesa.

Dei uma boa olhada em volta e não vi ninguém dar sinal de vida nos apartamentos da frente (meus vizinhos são pessoas extremamente normais, dormem cedo, acordam cedo e não acho que levem gosto por quebrar tudo na festinha), constatado isso, resolvi tomar um banho lá em cima mesmo. Não seria a primeira vez que faria algo do tipo.

Depois de uns cinco minutos me molhando eu me viro pro prédio da frente e percebo uma pequena luz vermelha se mexer, no terraço quase que de frente pro meu. Tava um completo breu, e a luz havia sumido. Fiquei olhando fixamente por uns 20 segundo, para ver se aparecia de novo e quando eu tava prestes a constatar de que era realmente algo da minha cabeça, a luz vermelha apareceu de novo, subiu um pouco no ar, parou, ficou mais intensa, e depois desceu de novo até desaparecer. Foi ai que eu constatei, uma brasa de um cigarro. Alguém no apartamento vizinho me via tomar banho enquanto fumava.

O susto me fez congelar, por uns 3 segundos fiquei completamente sem reação. Quando voltei a mim, desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha, peguei minhas coisas e fui me secar na cozinha, com o coração disparado.

Enquanto me secava eu indagava quem poderia ser a pessoa que ficou me observando tomar banho enquanto fumava tranqüilamente o seu cigarro. Eu já moro aqui a um ano e, do fundo do meu coração, eu não conheço ninguém que more no meu condomínio. Não faço idéia de quem possa morar nesse apartamento. E ai outras perguntas começaram a surgir na minha cabeça. O que essa pessoa teria sentido ao me flagrar tomando banho? Teria sentido tesão? Teria ficado intrigado? Teria sentido nojo? Não, nojo não. Pela posição da brasa do cigarro a pessoa estava exatamente de frente pra mim. Se tivesse sentido nojo teria virado de lado. Teria?

Da janela da minha cozinha, pude ver a brasa subir e descer novamente no ar. Pensei em ficar esperando que a pessoa terminasse seu cigarro e em algum momento do retorno a parte de baixo do apartamento, eu conseguisse ver um pedaço da pessoa, algo que me dessa uma pista de quem poderia ser, ou saber se é pelo menos homem ou mulher. Alguma coisa, qualquer coisa.

Mas resolvi voltar pro meu quarto, o mistério era bom demais pra ser revelado assim, logo de cara. Não sei como vou fazer pra descobrir quem é a pessoa, mas ao menos já tenho o endereço certo e isso reduz bastante o número de possibilidades. Enquanto isso, a cena da brasa do cigarro, subindo e descendo pelo ar, não sai da minha cabeça, como cena filme, só que foi tudo bem real.